quinta-feira, 31 de julho de 2008

Humor, humor e humor...

Improvável - Só Perguntas



http://www.improvavel.com.br/

Não nascemos prontos...

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.

A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece. Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música, etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas”.

Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?

Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.

Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc.), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.

Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e nunca a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar. Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...

Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano 2000, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.

Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”.
Por Mario Sergio Cortella

Do Livro Não nascemos prontos! Provocações filosóficas

domingo, 27 de julho de 2008

Para Crêr: uma oração de Obama



Uma oração do virtual candidato democrata à Presidencia dos EUA. É eleitoreira, sim! Nenhum candidato perderia essa oportunidade de deixar uma oração, como a dele, no muro de lamentações. No papel que vem impresso The King David, ele escreveu :

"Senhor, proteja minha família e eu. Perdoe meus pecados, e me proteja do orgulho e do desespero. Dê-me sabedoria para fazer o que é certo e justo, e faça-me um instrumento de sua vontade".
Barack Obama


A folha com as marcas de ter sido dobrada foi publicada pelo jornal Maariv. A oração lembra alguns versos de salmos escrito pelo Rei Davi. Por se dirigir ao Deus de Abraão, Isac, Jacó e Davi, merecem ser lembradas.

"Senhor, proteja minha família e eu. Perdoe meus pecados, e me proteja do orgulho e do desespero. Dê-me sabedoria para fazer o que é certo e justo, e faça-me um instrumento de sua vontade".
Laércio Miranda

sexta-feira, 25 de julho de 2008

To be idiot or not to be idiot, that's the question

"É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida"
Abraham Lincoln

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O lance não é entender, é compreender.

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector

Limitado é entender, compreender também não tem fronteira, a única fronteira a ultrapassar no compreender somos nós mesmos.

Memórias de Marguerite...

Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.

Próximos ao momento no qual, pela datação cristã, finda este século, mais do que lamentar algum tempo que já se foi ou inebriar-se pela sedução de um futuro incerto, é sempre bom recordar o afago de Marguerite Yourcenar (1903-1987) ao escrever que, “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana”.

A romancista e dramaturga francesa (nascida, porém, em Bruxelas, quando o século 20 tinha apenas três anos!) fez poesias (“O Jardim das Quimeras”), reinterpretando os mitos do nosso longínquo passado grego, e produziu sua mais famosa obra, “Memórias de Adriano”, quando o século chegava ao meio; morreu aos 84 anos, por pouco não alcançando o final do mesmo século com o qual quase nascera.

Qual passado não pode estar presente nas seculares memórias de Marguerite? Nos poucos 13 anos que faltaram para ela atingir o final do século 20, o que Marguerite não viu? Não viu o massacre de estudantes em uma praça de Pequim (que, por distúrbio semântico ou ironia mística, é chamada de Paz Celestial) nem a invasão do Panamá (em uma operação alcunhada de Causa Justa), ordenada por um presidente norte-americano que, agora, irá à posse do filho para o mesmo cargo; não viu o Brasil latinamente estrear o impeachment presidencial.

Não viu a queda do Muro de Berlim e a posterior reunificação das Alemanhas; não viu, também, o começo da reaproximação das Coréias e, mais recentemente, a lamentável retomada dos confrontos entre israelenses e palestinos, apenas sete anos após a assinatura do acordo de paz, que culminou com a entrega do Nobel para os signatários Iasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin (assassinado por um jovem judeu em Tel Aviv há cinco anos).

Não viu o desmantelamento da União Soviética, com o fim do começo da necessária utopia socialista; não viu o papa João Paulo 2º visitar Cuba a convite do próprio Fidel Castro (participante contrito de uma espetacular missa em Havana) nem o fechamento definitivo da usina nuclear de Tchernobil.

Não viu a Guerra do Golfo, quando, autorizado pela ONU, o Ocidente fez um ataque maciço e inclemente contra as forças de Saddam Hussein para recuperar os campos de petróleo de um Kuait submetido a uma invasão iraquiana; não viu uma sangrenta e aterrorizante Guerra da Bósnia, entre sérvios, croatas e bósnios, o mais longo conflito bélico na Europa depois da Segunda Guerra Mundial e que, por não envolver a avidez do petróleo, permitiu que as grandes nações acompanhassem sem intervir de fato.

Não viu a emocionante eleição de Nelson Mandela (depois de quase 28 anos na prisão) para presidir a África do Sul no primeiro governo após o término formal do apartheid; não viu José Saramago receber o Nobel de Literatura, inédito para um escritor de língua portuguesa, nem alguns ideais nazistas ressurgirem em determinados focos na Europa, que, criando uma União Européia, lançou uma moeda única.

Nas suas parciais memórias, Marguerite não viu a ovelha Dolly nem se assustou com os desdobramentos possíveis da clonagem; não falou a partir de um celular nem navegou na Internet; não ingeriu alimentos geneticamente modificados; não ouviu música em um CD; não presenciou a regularização (em alguns países) da eutanásia e da união civil entre pessoas do mesmo sexo; não acompanhou a sonda em Marte (com hipótese de outras formas de vida) e não chorou a morte de Antonio Carlos Jobim, Frank Sinatra e madre Teresa de Calcutá.

Esses “presentes”, tal como sobreviveram na memória humana, poderiam ser outros; dependem, sempre, do ponto de vista de quem lembra.

Por isso precisa ficar memorável a idéia do contemporâneo William Faulkner: “Ontem só acabará amanhã, e amanhã começou há dez mil anos...”.

Mario Sergio Cortella, Retirado do livro Não nascemos Prontos! Provocações filosóficas

terça-feira, 22 de julho de 2008

Ana Carolina e Seu Jorge- É isso Ai

"É isso ai
Há quem acredite em milagres
há quem cometa maldades
há quem não saiba dizer a verdade.
É isso ai
Um vendedor de flores
ensina seus filhos a escolher seus amores...




Mafalda e a cartografia do nosso mundo.

A cartografia do mundo desenvolvido

Além de transmitir informações a respeito de lugares existentes em nosso planeta, sejam elas financeiras, econômicas ou culturais, em vários momentos da história as projeções cartográficas serviram também como instrumentos político-ideológicos ao serem utilizadas para disseminar um determinado ponto de vista a respeito do mundo. Um exemplo disso são os mapas-múndi que tradicionalmente apresentam a linha do Equador e o Meridiano de Greenwich centralizados na representação da superfície do planeta e nos quais a Europa aparece no “centro” do Mundo.

Essa visão chamada de visão eurocêntrica esta presente também no fato de as projeções serem elaboradas com o norte na parte superior e utilizadas como forma de transmitir a idéia de superioridade dos povos europeus em relação a outras civilizações. Tal visão possui um poder de convencimento tão forte que pode levar muitas pessoas a entenderem como um “erro” o fato de se usar o mapa com o Sul posicionado na parte superior, ou seja, de usar o planisfério “invertido” ou de “cabeça pra baixo”.

Somente no século XX é que alguns cartógrafos resolveram romper com essa dominante do mundo, ou seja, a partir de países ricos e industrializados no hemisfério Norte.

Retirado do livro Geografia Espaço e vivencia


O Mundo de Beakman - S01 E01 - Parte I

O primeiro episódio do fantástico Mundo de Beakman, fala sobre a cartografia do mundo moderno. Estamos em cima ou estamos em baixo? Nem em cima nem embaixo. É tudo uma questão de Perspectiva.


segunda-feira, 21 de julho de 2008

Segunda Versão: Ricardo Soares sobre o Bernardinho

Nunca vi ninguém ir na contra mão na publicidade que a mídia faz em cima do Bernardinho, o nosso exemplo maior de vitória. tá aqui sujeito corajoso.

Com vocês Ricardo Soares:

"Num post ele manda: ...além de ser a antítese do carioca que seu sotaque não nega Bernardinho é tudo aquilo que eu jamais quis ser. Competitivo, estressado, criador de clichês e frases feitas, metido a bom moço, histérico, sem senso de ridículo e consultor de auto- ajuda e "sucesso pessoal". Enfim , um entojo completo vendido como bem sucedido. Bernardinho , o bobalhão em busca de resultados, é um perfeito garoto -propaganda da cultura de mercado. Pior e mais insosso e patético do que ele só mesmo Roberto Justus essa bolha de vento com cara de incontinência urinária. "
http://todoprosa.blogspot.com/2008/06/bernardinho-mala-oriental.html"

Bernardinho Mala oriental

num outro ele manda...

"Nunca gostei de Bernardinho , técnico da seleção brasileira de vôlei. Até aí morreu Neves visto que milhares de pessoas nesse país o acham o máximo. Chamam-no de vencedor, um realizador ,um guerreiro e outras baboseiras que a mídia triunfalista cola na imagem desse mauricinho narcisista com traços de autoritarismo mais que evidentes. No Brasil vencer - seja a que preço for - é o que interessa. Já que Bernardinho- Mauricinho vence então deixa ele não ter senso de humor, deixa ele regurgitar lições banais de auto- ajuda ,deixa ele gritar,deixa ele posar de imperador do vôlei com aquela expressão seríssima de quem descobriu a cura da Aids. "

link.
Bernardinho essa mala

sábado, 19 de julho de 2008

Trabalhar é...

Trabalhar é cooperar com Deus para colocar ordem no caos, tornar o mundo habitável, mais justo, mais fraterno, mais solidário, isto é, o mais parecido possível com o paraíso. Utopia? Claro. Mas é bom que sejamos movidos por utopias. As alternativas são o niilismo, o cinismo, ou algo pior.
Ed René kivitz

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Padron


Humor com Macaco Simão

E acaba de sair a Oração Dantas para o povo do colarinho branco: "O habeas corpus nosso de cada dia nos dai hoje! Não nos deixei cair na prisão e livrai-nos de toda Federal"! Rarará! E o Cacciola chegou! E já chegou cumprindo pena: de TAM! E na classe econômica. Rarará! E o chargista Padron revela o que o Cacciola falou para a polícia no aeroporto de Mônaco: "Corre que eu quero pegar a temporada de habeas corpus"
fonte Folha

Angeli


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Se todos tivessem memória de elefante

Se todos tivessem memória de elefante

Começou a temporada de caça aos patos. Ingênuos, eles nunca aprendem a lição e deixam-se abater pelos mesmos caçadores e suas velhas espingardas. Atraídos por migalhas, caem nas armadilhas de sempre. São uns patos. Voam em bando, enfileirados no céu, lindos contra a luz do pôr do sol. Descem à terra para um descanso noturno e para satisfazer necessidades simples: comer e beber água. Incautos, nem lembram o chumbo que levaram em anos anteriores.

Os patos nasceram patos e é mentira do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen que eles aspiram um dia se tornarem cisnes. Tudo leva a crer que pato adora ser pato, desde que foram inventados pelo Criador. Bem antigamente, os caçadores os abatiam com pedras arremessadas de fundas ou baladeiras. Depois vieram as flechas, as lanças, os cães adestrados e, por último, as armas de fogo. Ah, a pólvora! Desde que os chineses a inventaram os patos não tiveram mais sossego.

Existirá criatura de Deus mais burra do que um pato? Nem mesmo o burro. Quando você olha para o céu e avista a fileira bonita, um desenho de nanquim preto contra o fundo vermelho do sol imagina que todos eles pensam; que são donos do próprio destino; que sabem para onde se encaminham e porque batem as asas com tanto esforço. Eles grasnam, ao pousar no chão, numa algazarra que só os patos conseguem fazer, mas não pensam em nada, não cuidam que estão sob a mira do inimigo. Pato tem memória fraca, não é como elefante, esquece logo o que fizeram com ele ou com algum dos seus parentes. Olham para as migalhas jogadas aos seus pés e acreditam que dessa vez será de outro modo.

Grasnar é um verbo que criaram para se referir à voz dos corvos e patos. É um som irritante como o dos trios elétricos da Bahia, aqueles que saem no carnaval de fevereiro e no carnaval das eleições. Os patos deixam-se levar pela "estridência" dos discursos, pelo embalo das promessas e por camisas de malha e alpargatas japonesas que atiram para eles de cima dos trios. Fazer o quê? Nasceram mesmo para voar em bando, um atrás do outro, sem pensar em nada e sem perguntar por nada. Pato gosta de ser pato.

Quando agitam bandeiras ou mostram retratos em tablóides os patos dançam e se animam, esquecidos do passado mais recente, de caçadas e falcatruas. O grasnado que emitem chega a ser mais alto que o tiroteio zunindo por cima de suas cabeças e chamuscando suas asas. Fazer o que, se pato gosta de sair atrás de trio elétrico?

A temporada de caça se repete sempre de dois em dois anos. É um salve-se quem puder, saraivada de chumbo fino e grosso. Os caçadores ricos têm mais poder de fogo, armas de maior alcance. São os que abatem mais patos. Também pudera, com tantos retratos e bandeiras, chamadas na televisão, abraços em crianças e velhos, retórica de caçador matreiro... A tantos apelos e ciladas, não há pato que resista. As arapucas fazem a farra e os corvos riem dos patos.

Burro não é o burro, Burro é o Pato.

prosado em Terra Magazine

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Diário de um ano Ruim

Resisto a tudo menos a tentações. Oscar Wilde

A ultima que não resisti foi a de comprar o livro Diário de um Ano Ruim. Do escritor Sul-Africano Cotzee. Amanhã chega aqui em casa e posto algo sobre ele semana que vem.

Sobre Alegria e Tristeza

A tristeza é o que sentimos ao perceber que nossa realidade diminui porque nossa capacidade de agir encontra-se diminuída ou entravada.
Espinosa, Ética

A alegria é o que sentimos quando percebemos o aumento de nossa realidade, isto é, da nossa força interna e capacidade de agir. Aumento de pensamento e ação, a alegria é caminho da autonomia individual e política. A tristeza é o que sentimos ao perceber a diminuição de nossa realidade, de nossa capacidade para agir, o aumento de nossa impotência e a perda da autonomia. A tristeza é o caminho da servidão individual e política, sendo suas formas mais costumeiras o ódio e o medo recíprocos.

Espinosa dizia que a razão só inicia o trabalho do pensamento quando sentimos que pensar é um bem ou uma alegria, e ignorar, um mal ou uma tristeza. Somente quando o desejo de pensar é vivido e sentido como um afeto que aumenta nosso ser e nosso agir é que podemos avaliar todo mal que nos vem de não saber. Pensar, agir, ser livre e feliz constituem um modo unitário de existir. Por isso, escrevia Espinosa, não há instrumento mais poderoso para manter a dominação sobre os homens do que mantê-los no medo e para conserva-los no medo, nada melhor do que conserva-los na ignorância. Inspirar terror, alimentar o medo, cultivar esperanças ilusórias de salvação e conservar a ignorância são as armas privilegiadas dos governos violentos... O que me é dado sob aparência de saber não é sequer o próprio saber, mas sua caricatura banalizada e vulgarizada... Conhecer é apropriar-se intelectualmente de um campo dado de fatos ou idéias que constituem o saber estabelecido. Pensar é desentranhar a inteligibilidade de uma experiência opaca que se oferece como matéria para o trabalho de reflexão para ser compreendida e, assim, negada enquanto experiência imediata. Conhecer, é tomar posse. Pensar é trabalho da reflexão. O conhecimento se move na região do instituído, o pensamento, na do instituinte.

Chauí, M “O que é ser Educador hoje? Da Arte à Ciência: A morte do Educador” in O Educador:Vida e Morte Carlos Rodrigues Brandão (org)

Crente é tudo bobo!

Quem leu o post anterior, e bateu uma deprê do cenário evangélico, saiba que o mundo não está perdido. Tem vida inteligente entre cristãos e evangélicos. O mundinho miúdo, miudissimo de alguns evangélicos encontra o contraponto também em alguns portais como o Cristianismo Criativo.
Segue um texto do Whaner Endo sobre a 8º Flip. Só de saber que tem gente que ora para tudo isso acabar e virar uma "EXPO" me dá um frio na barriga.


Crente é tudo bobo!
Depois de três dias imersos no mundo das letras, na 6ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty - saí com a nítida impressão de que esta é a visão que o mundo tem dos crentes: só tem bobo no meio da igreja. Mesmo com a importância antropológica ou pelo menos estatística dos evangélicos brasileiros, parece que quando se fala em artes e cultura somos um zero à esquerda.

Entre as mesas e as dezenas de atividades oficiais, além da Off Flip, Flipinha e eventos paralelos, sabe quantos foram voltados, especificamente para o público cristão? ZERO!
Mas, pensando bem... Será que era necessário que isso acontecesse? Acho que não!

Um dos problemas dos cristãos é a sua mentalidade de gueto. Ultimamente, até a pregação tem sido feita só para os de dentro da igreja. Se produzimos arte, ela quase sempre tem um caráter utilitário, pragmático, ou seja, ou é pra evangelização ou para ser utilizada nas liturgias eclesiásticas. Não existe “arte pela arte”.

Pensando assim, fica mais claro porque um evento como a Flip não tem - e nem deveria ter - uma programação específica para o segmento evangélico. Ainda mais nos moldes dos eventos “gospéis” que hoje existem. Se a principal feira voltada para o público evangélico é chamada popularmente de Expo-Babilônia, é sinal de que as coisas não andam muito bem por aqui...
Ano passado, um grupo de irmãos promoveu, com apoio de outros crentes de Paraty, uma “Flip Gospel”, com dupla musical evangelizando na praça e tudo mais... Pô, por que esse pessoal não se esforçou pra ir à Flip, em vez de tentar montar um evento no gueto? Vai entender...

Atividade da Flipinha, na praçaSó sei que, quem não foi esse ano, perdeu. E me disseram que a edição 2008 estava meio caidinha...

Relatos de um crente na Flip
Machado de Assis foi o escritor escolhido como tema – no ano de centenário de sua morte – para a 6ª edição da Flip, que ocorreu entre os dias 2 e 6 de julho na cidade histórica. Para quem ainda não teve a oportunidade de participar, a Flip é simples assim: são feitas mesas-redondas com escritores de diferentes nacionalidades e que, supostamente, devem ligar-se por algum tema. Nem sempre isto deu certo.

Entre um intervalo e outro, a difícil escolha por onde seguir... Café Margarida, onde encontrei Veríssimo e Vitor Ramil na mesma noite; Porto da Pinga (não deixe de experimentar a “cachaça da cobra”... Isto mesmo: tem uma cobra dentro da garrafa!); Café Blend (o café coado na mesa tem um charme todo especial); ou uma das atrações paralelas lançadas pela Off Flip. Confesso que este era o lugar em que Machado estava mais presente. À exceção da mesa de abertura do evento, intitulada “A poesia envenenada de Dom Casmurro” e de uma ou outra exposição, promovida pelo Jornal do Brasil, e dos bonecos na praça, pouco se falou sobre ele. Ah, sim, os garçons dos principais bares das cidades estavam trajados com uma camiseta preta, com a chamada: “Quem foi Capitu?” Quem entendeu a brincadeira não respondeu à pergunta...

Enquanto isto, multidões espremiam-se nas ruas, parando volta-e-meia para pedir autógrafo ou fotografar algum ator ou jornalista global... Escritores que esperam por uma oportunidade recitam seus versos em prosa e poesia, deixando as ruas de pedra – feitas para se caminhar de tênis – ainda mais bonitas.

A mídia divulgou que esta Flip não teria estrelas. Realmente, alguns autores não eram tão conhecidos logo de cara, mas aí ficou a oportunidade de realmente conhecer um pouco mais da obra destes ilustres convidados. No total, 19 mesas-redondas, mediadas vez ou outra por algum escritor mais renomado, como é o caso de Veríssimo, que começou agradecendo a organização pela participação na Clip – Congresso Literário Internacional de Paraty.... Clip? Isto mesmo! Uma gafe logo no início, mas considerando seu humor tímido e indiscutível, todos simplesmente riram e levaram na brincadeira.

Nossas mesas
Com a “eficientíssima” venda de ingressos, fica difícil você escolher as mesas que deseja, mas graças a Deus (será que é por que sou crente?), consegui comprar os ingressos que queria na Tenda dos Autores. Importante destacar que, mesmo que você não tenha conseguido seu lugar na Tenda dos Autores, dá pra assistir às mesas na Tenda do Telão ou simplesmente sentar-se nas calçadas no entorno deste espaço.

Foi na Tenda do Telão que Ana Claudia e eu assistimos à primeira mesa: “A estética do Frio”, com Martin Kohan, Nathan Englander e Vitor Ramil. Com o moderador aparentemente nervoso, a melhor parte da conversa ficou com o argentino Kohan, que falou sobre Borges. Questionado sobre como era escrever numa era pós-Borges, simplesmente disse: "Borges escreveu sobre um futuro concreto, porque tudo o que fazemos hoje [após sua morte] é absolutamente passado", disse ele, enfatizando a atemporalidade do principal escritor argentino. Em seguida, contou que escrevera o romance durante a guerra das Malvinas, embora não se referisse diretamente a ela, procurando mostrar por meio do texto o que se ouve quando a política faz calar. Calou profundo!

Já na Tenda dos Autores, Ana e eu aguardávamos ansiosos o início de conversa entre David Sedaris e Mathew Shirts. Foi a mesa mais divertida de todas a que assistimos. Também pudera: Sedaris, que é colaborador da New Yorker, foi eleito humorista do ano pela New York Times. Segundo ele, permaneceu apenas três dias com o título, afinal foi a edição do dia 10/set/2001 que o elegeu e, no dia 12/set a edição ‘extra’ do jornal já trazia outro americano na top list...

Homossexual assumido, Sedaris iniciou lendo um conto sobre sua experiência ao morar na França e ter de aprender francês (você pode assistir à mesa no YouTube, clicando aqui). Entre uma piada e outra, ele falou sobre a estética da literatura e os estilos de escrita. Segundo ele, normalmente reescreve diversas vezes seus textos antes de entregá-los ao seu editor. Hummm... Nossos autores poderiam aprender isso... Pra ele, esse processe de reescrita é algo penoso: “o primeiro rascunho de uma obra é prazeroso; os demais, passam a ser mera matemática”. Como é difícil achar autores, principalmente iniciantes, que acreditam na técnica, no estudo e na transpiração para escrever...

Já no dia seguinte, assistimos à mesa “A mão e a luva”, com Neil Gaiman (criador, entre outros personagens, do Sandman) e Richard Price (escritor e roteirista, que trabalhou com diretores como Spike Lee e Martin Scorsese), mediados pelo CQC Marcelo Tas.

Neil Gaiman fez a leitura do seu conto inédito “Other People” (pra mim, o ápice da Flip desse ano), atraindo a atenção das 600 pessoas, que lotaram a Tenda dos Autores e ouviram sua história – a narrativa e a arte do diálogo entre um homem e o diabo – em absoluto silêncio, para em seguida ser muito aplaudido (veja no YouTube).

Richard Price desvelou-se na arte de produzir diálogos em seus livros e, sabiamente respondeu ao Tass que os diálogos da vida real não servem pra nada na composição de seus textos... É verdade, você já prestou atenção em qualquer dialogo na mesa de um bar ou numa roda de amigos? Frases cortadas, idéias subentendidas... emoções e expressões dão a lucidez que as letras não podem transcrever...
prosado em Cristianismo Criativo

Carta aberta

Uma carta aberta a Ana Paula Valadão do Sérgio Pavarini

Querida Ana Paula,

“Aquilo que a memória amou fica eterno”, compôs a poeta Adélia Prado. Perscruto os escaninhos da memória e descubro meu sobrinho mal sabendo falar, mas já cantando “Se tu olhares, Senhor, pra dentro de mim”. Alguns anos se passaram e a voz do Henrique continua doce e infantil. Ao olhar para sua trajetória no período, as mudanças foram bem mais sensíveis e um tanto esquisitas, Ana. Pode seguir a tua estrela. O teu brinquedo de 'star'.

Fui um dos primeiros blogueiros a divulgar sua performance leonina em Anápolis (GO). Como apregoa o jornalismo sadio, escrevi para os amigos do Diante do Trono a fim de abrir espaço para uma eventual manifestação sua. Eles me agradeceram com a costumeira fidalguia e fizeram chegar a você a informação. Sem obter qualquer tipo de resposta, postei o vídeo. Não me arrependi, como aconteceu com outro rapaz. Até hoje o fogo da discussão permanece aceso e mesmo seus fãs mais entusiasmados coram ao relembrar a cena patética.

Pra que usar de tanta educação. Pra destilar terceiras intenções. Seu silêncio sobre o assunto durou cerca de seis meses. Em meio a uma logorréia nonsense, você creditou a Deus a responsabilidade da patacoada. Infelizmente, os resultados mostraram que o animal da tal unção estava mais para hiena do que leão, tal o nível das piadas e deboches que se seguiram.

Fiz outras visitas ao seu blog e cada dia me assustava mais com o que lia. Até mesmo atos prosaicos como escolher uma roupa eram atribuídos ao Espírito “fashion” Santo. O cinto preto largo representava autoridade e botas pretas transmitiriam “força, poder, autoridade e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente, na cabeça do diabo”. Examinei meu guarda-roupa e, decepcionado, nada encontrei de “profético”. Inspirado por seus delírios, imaginei os pastores da Universal vestidos de caubóis nas sessões de descarrego. Aiôôô... Espora no capiroto, irmãos! Pequenas poções de ilusão.

Congresso do Diante do Trono. Litros de chororô e muito siri-canta-na-lagoa, perdão, na Lagoinha. Aliás, ainda não consegui entender o porquê de tantas palavras estranhas em línguas (a ordem pouco importa, no caso) nos eventos públicos. Se contrariar a instrução paulina sobre esse assunto fosse estratagema eficaz, dona Sonia Hernandes estaria livremente batendo suas canelas episcopais em solo verde-amarelo. E sem a tornozeleira com GPS. Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...

“Os teatros serão fechadas para peças evangelísticas... O Senhor fará novelas para o povo brasileiro... Cairá todo meio de comunicação que não glorifica o Senhor...” Socorro, Ana Paula! Isso foi ato profético ou visão de um dos círculos do Inferno de Dante? Tô cansado de tanta caretice, tanta babaquice. Desta eterna falta do que falar. Deus nos livre de Racine, Beckett e Molière serem substituídos pela trupe gospel. Proscênio não é picadeiro, com todo respeito aos artistas circenses.

Soube que rolou também a tal “unção do chulé”. Em vez de incentivar o serviço humilde, o ato foi criativamente entremeado por afirmações de que você e seu irmão seriam “curados” das críticas. No final da mis-en-scène burlesca, a água do “rio de Deus” foi jogada sobre os espectadores. Bobeira é não viver a realidade.

Infelizmente, o espaço nobre de que disponho aqui é inversamente proporcional à sua capacidade de protagonizar episódios bizarros. Você explicou que apareceu num programa brega de óculos escuros por causa de conjuntivite. Pela sucessão de “causos”, suponho que seja miopia crônica mesmo. Vide o lance da morte do fundador do Bloco Galo da Madrugada. Temo pelo futuro das reuniões de oração no país se você continuar a repetir que essas sandices são resultado de intercessão. O que me anima é ver o número crescente de pessoas discutindo bereanamente cada uma dessas ocorrências. Estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz.

Que Deus reavive em você o desejo de receber um “novo coração”. Quem teve a graça de ser aquinhoada com muitos talentos será intensamente cobrada, não é? Isso me motiva a interceder para que não se realizem em sua vida outros versos do poeta Agenor: O seu futuro é duvidoso; eu vejo grana, eu vejo dor. Minhas palavras podem parecer histriônicas, mas é genuíno meu desejo de ver águas purificadoras (ainda mais que as do Lete) banhando ministérios de música em todo o país, Ana. Tenho investido minha vida nesse intento, por isso jamais vou me calar, querida. Amando eu me acalmo e me desespero.
Big abraço

PS.: As preferências musicais do Henrique mudaram bastante. Hoje ele curte Akon, Boyz II Men e Queen. Prometi um CD do Cazuza para o espertíssimo garoto.

texto p/ o site Cristianismo criativo e p/ a próxima edição da revista Cristianismo Hoje.

terça-feira, 15 de julho de 2008

O que é a Vida?!

A vida é um hospital
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.

Fernando Pessoa

domingo, 13 de julho de 2008

Carta ao Pai

É a obra mais comovente de Franz Kafka [1883-1924] porque não foi criada para ser literatura, e sim apenas um desabafo. Por causa da sua falta de coragem em encarar o próprio pai, Franz escreve uma comovente carta [ed. Cia. das Letras], revisada diversas vezes. Sua mãe o desencoraja a entregá-la a Hermann, o pai, e a carta acaba não chegando ao destino. Nela está inserida a relação apaixonada e conturbada com o pai, um comerciante judeu autoritário e de personalidade forte. É uma fascinante obra de arte, em que a alma humana é desnudada, e mergulha nas profundezas do relacionamento entre filhos e pais.

Sandro Borelli é coreógrafo. Sua obra "Artista da Fome" é encenada hoje em São Paulo.
Fonte: Folha de São Paulo

Segue dois trechos...

Querido Pai:

"Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento." p7

...

“É fato também, que você nunca me bateu de verdade, Mas os gritos, o enrubescimento do seu rosto, o gesto de tirar a cinta e de deixá-la pronta no espaldar da cadeira, para mim eram quase piores. É como quando alguém deve ser enforcado. Se ele é realmente enforcado, então morre e acaba tudo. Mas se precisa presenciar todos os preparativos para o enforcamento, e só fica sabendo do seu indulto quando o laço pende diante do seu rosto, então ele pode ter de sofrer a vida toda com isso. Alem do mais, da muitas vezes em que, na sua opinião declarada, eu teria merecido uma surra, mas escapara por um triz. por causa da sua clemência, se acumulava de novo um grande sentimento de culpa. De todos os lados, eu desembocava na sua culpa." Franz kafka. p 30

Carta ao Pai.

Eu li a carta e digo é impossível não se comover com o texto. Ela Desnuda a alma, fala dos relacionamentos; faz pensar, relembrar momentos e refletir sobre as influências negativas ou positivas que temos de nossos pais ou mesmos irmãos.

Sobre o tédio: por Antonio Cicero

EM CERTO ponto do romance "O Vermelho e o Negro", de Stendhal, um dos personagens -o príncipe Korasoff- censura a tristeza do herói, Julien Sorel, explicando-lhe que "o ar triste não pode ser de bom tom; o que é necessário é o ar entediado. Se você está triste, há alguma coisa que lhe falta, alguma coisa que você não conseguiu. É mostrar-se inferior. Se você está entediado, ao contrário, o que é inferior é aquilo que em vão tentou agradá-lo".É sem dúvida por essa razão que o ar blasé é tido por muitos como sinal de superioridade.

Não vejo superioridade nenhuma na pessoa cronicamente entediada. Se alguém, para parecer superior, precisa fingir estar entediado, é porque, na verdade, se sente inferior. Seu ar entediado é uma tentativa de se vingar dessa inferioridade. Por outro lado, uma pessoa que esteja sempre ou quase sempre genuinamente entediada não pode deixar de ser, em primeiro lugar, entediante: ela é entediada exatamente porque entendia a si própria.

Refiro-me aqui, é claro, às pessoas livres, isto é, àquelas que podem dispor, em medida considerável, do seu tempo. O que digo não se aplica, por exemplo, a enfermos, a prisioneiros ou a trabalhadores forçados.

E todos nós estamos sujeitos a momentos de tédio, como, por exemplo, quando nos encontramos, sem material de leitura, numa fila de banco, ou numa cerimônia da qual, por alguma razão, não conseguimos deixar de participar.

Fora semelhantes casos, porém, quase todos os nossos tédios são, como diz o poeta Paul Valéry, "nossa criação original". Difamar o mundo -e o mundo é sempre o mundo contemporâneo-, chamando-o de tedioso, diz muito sobre o difamador e nada sobre o mundo. Este não pode ser classificado nem de tedioso nem de interessante, pois é nele que se encontra tudo o que pode haver de interessante e de tedioso. Por isso, ele é entediante para quem é entediante, superficial para quem é superficial, profundo para quem é profundo, e interessante para quem é interessante.

Assim é que, por exemplo, com um estado de espírito oposto ao do difamador do mundo, Montesquieu anotou num caderno que quase nunca tinha tristeza, e menos ainda tédio. Na mesma página, escreveu também: "Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie de arrebatamento". Esse, sim, é um sentimento verdadeiramente superior.

Contudo, não ignoro que haja pessoas livres, com saúde, e até interessantes, que às vezes se entediam exatamente quando têm lazer, isto é, quando poderiam, por exemplo, não digo nem viajar, mas simplesmente ler um grande romance, escrever uma carta ou um poema, ou não mais que andar na rua, apreciando a paisagem ou o movimento, ou, quem sabe, a passagem dessa ou daquela promessa de felicidade. Nem ignoro que qualquer uma das atividades que acabo de citar -ou qualquer outra que se imagine- seria capaz de lhes sugerir exatamente o cúmulo do tédio. Por quê? Como é possível ser tediosa a vida de uma pessoa que dispõe do seu tempo?

Creio que a resposta é que o tédio costuma acometer qualquer um que tenha orientado tudo na sua vida por uma única causa final.

A pessoa para quem o tédio se dá desse modo é aquela que tem um interesse obsessivo por uma só coisa. Nesse caso, encarando todas as demais coisas como meros caminhos ou obstáculos para a consecução do seu objetivo, ela as destitui de qualquer interesse intrínseco.

À medida que, em vez de facilitar o avanço dela rumo a esse ponto final, algo possui uma espessura e opacidade própria, à medida que exige atenção para si mesmo, passa a ser um obstáculo. Sendo assim, o tempo que, a contragosto, tal pessoa é obrigada a lhe dedicar, passa a ser um tempo de desvio, tempo que gostaria de ver passar o mais rapidamente possível, abrindo-lhe novamente caminho para a retomada da corrida rumo à finalidade última. Tal é o tempo do tédio, que ela tenta "matar", como se o tempo não constituísse a própria substância da vida.

O ponto final pode ser, por exemplo, uma paixão devoradora, que atropele tudo o mais. Digamos que uma pessoa vá a uma festa esperando ver o objeto de sua paixão e, lá chegando, não o veja. Então a festa que, não fosse por essa frustração, poderia ser uma delícia, torna-se, para ela, o mais puro tédio. Sem ganhar o objeto da paixão, ela perde o mundo. Eis uma das razões pelas quais tantos filósofos -inclusive Epicuro, que elogiava o prazer- apreciam o amor e a amizade, mas desconfiam da paixão...

Fonte. Folha de São Paulo

Para crêr: Faça Valer

Não sei quem a compôs, mas a letra é muito, mas muito boa mesmo. segue... Faça Valer!

Se a gente é tocado na alma, entende que agente não vive somente pra si
A vida é para ser repartida e a vida partida é para gente reconstruir

Faça Valer viva de um jeito que tenha valor
Viva pra fazer diferença
Faça valer faça de um jeito que tenha valor
Faça fazer diferença

Se a gente é tocado na alma, agente se toca há coisas agora a cumprir
Se o outro precisa de ajuda então mãos a obra é hora da gente agir

Faça Valer viva de um jeito que tenha valor
Viva pra fazer diferença
Faça valer faça de um jeito que tenha valor
Faça fazer diferença Se a gente é tocado na alma, aprende que o que importa na vida é ser
Ser a imagem do Pai ser a favor do irmão
Ser tão pequeno que caiba o mundo inteiro lá dentro do seu coração.

Faça Valer viva de um jeito que tenha valor
Viva pra fazer diferença
Faça valer faça de um jeito que tenha valor
Faça fazer diferença

sábado, 12 de julho de 2008

Sessão quero Consumir

Chega ao Brasil "Leões de Bagdá", HQ inspirada na fuga real de animais do zôo durante a guerra; autor diz que usou bichos porque permitem contar uma "história universal'
Fonte: Folha de São Paulo
O que o autor da HQ e um dos roteiristas de Lost, Brian K. Vaughan, diz sobre a guerra do Iraque.
“Estranhamente, é difícil para uma pessoa qualquer se emocionar com as vítimas civis das guerras estrangeiras que vemos na TV. Mas quase todos sentem quando vêem um animal inocente sofrer." Fonte Folha de São Paulo
Acredito que alguns conflitos tornam-se mais compreensíveis quando emprestam sua irracionalidade a ficção, e isso é confirmado quando Vaughan transfere a tragédia humana aos leões que escaparão zoológico durante o bombardeio na guerra do Iraque.

Na HQ os animais ganham características humanas que nós, por distanciamento, incompreensão ou por escolha mesmo, ignoramos nos homens, mas que ganham um pouco de sentido, e causam mais interesse quando essas características se transferem para os animais. Lembro-me de uma frase agora, “quem menos tem consciência da água é o peixe”. A nossa falta de consciência e incompreensão da vida ganha notabilidade quando é apresentada de uma maneira diferente do nosso modo de viver a vida, é como se estivessemos cegos para nós mesmos. Quais eram os conflitos do metamorfoseado Gregor de kafka ou dos bichos de George Orwell? Eram e são conflitos nossos e que se bem adaptados tornam-se clássicos. Que Vaughan tenha acertado. Pretendo em breve Lê-lo, e desejo sucesso que fez com Lost!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Wall.E

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Assisti Wall.E


Um filme que fala do possível resultado da persistência do ser humano em produzir lixo e mais lixo e deixar de lado o que é essencial, os sentimentos, o olho no olho, o toque, o pegar nas mãos; isso pode nos surpreender se voltarmos a fazer isso.


A trama fala que em 2815 a terra não é mais habitada por conta de tanto lixo produzido, o que a deixou inabitável aos seres humanos; e mais do que isso pela indiferença com o nosso espaço com o meio ambiente e com as pessoas. É isso, o filme fala um pouco sobre os nossos relacionamentos sobre vida, é um filme educativo para se assistir com amigos, com crianças, como eu assisti hoje com Guilherme e Beatriz.


Um excelente filme no Mês de Julho.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

9 de julho

Com um atraso considerável... notícias sobre o 9 de Julho. do site de Pedro Dória

Quando me mudei para São Paulo, ganhei de meu pai uma medalhinha. O desenho é um art déco elegante. Na frente, uma Atena com asas e muitas bandeiras, a inscrição ‘Tudo por um S. Paulo forte no Brasil unido’; no verso, ‘9 de julho de 1932: Aos heróicos soldados da lei, defensores da mais alta aspiração nacional, homenagem do povo de S. Paulo’.

A medalhinha pertencia a minha avó que serviu como enfermeira no fronte.

A Revolução de 1932 faz 76 anos, hoje. O objetivo era derrubar o governo de Getúlio Vargas e reinstituir a Constituição. Ou era uma maneira de reinstituir a política do Café com Leite e a Velha República. Depende de quem conta.

Foi a última vez que um estado se levantou contra o governo central, no Brasil. Difícil imaginar algo do tipo acontecendo novamente.

Atualização - Nos comentários, Carlos Alberto Lemes de Andrade lembra que o governador Magalhães Pinto declarou Minas sublevada e independente às vésperas do Golpe de 1964. Foram estranhíssimos dias, aqueles.

prosado em http://pedrodoria.com.br/2008/07/09/o-nove-de-julho-aos-76/

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Segunda Versão: Ricardo Soares e as Farcs


Eu Chorei vendo algumas imagens do reencontro da Ingrid Betancourt com os seus dois filhos. Até ai não há novidade. Eu acompanhei o caso desde em que ela foi seqüestrada, foi emocionante o desfecho; e como dizia uma amiga eu choro até em inauguração de Supermercado.
Quando soube do ocorrido eu pensei em ir até blog do controverso Ricardo Soares, a voz dissonante do jornalismo brasileiro. Não pude por motivos que também o impediram de postar algo sobre a libertação. Sobre o documentário "Colombianos" assisti trechos na cultura e achei sensacional e espero um dia assisti-lo por completo.

Segue a segunda versão dessa segunda com Ricardo Soares sobre as Farcs.

Por conta de eu ser um refém da incompetência da Telefonica - como disse no post abaixo - estou escrevendo com um dia de atraso sobre a mais célebre refém contemporânea, Ingrid Bettancourt, que na foto acima abraça sua dedicada e amada mãe, a simpática ex- senadora Yolanda Pulecio que conheci há exatamente um ano e me recebeu amavelmente em seu apartamento na zona norte de Bogotá para dar um depoimento para o meu documentário "Colombianos" que foi exibido pela Tv Cultura de São Paulo.Por trás desse sofrido e doloroso abraço entre mãe e filha há um longo caminho, uma longa história que durou 2236 dias do cativeiro em que Ingrid ficou em poder das Farc na selva colombiana se tornando involuntariamente uma peça importante no xadrez geopolítico que envolvia os governos federais localizados em Bogotá, Washington, Paris, Caracas, Quito, La Paz e até Brasília. O leitor e blogueiro Marcelo Henrique disse dois posts abaixo que veio aqui esperando o que eu diria sobre a libertação de Ingrid. A Telefonica impediu que eu viesse antes Marcelo mas, afinal, o que posso dizer ? Digo que fico feliz em ver essa família de novo reunida e que espero sinceramente que essa operação mal explicada -que evidentemente tem o dedo dos americanos -seja um mais um passo em busca da paz que o povo colombiano espera. Não me juntarei ao coro dos contentes que felicita o governo Uribe pois o considero tão responsável por essa guerra cruel quanto as Farc. Sempre repito que a Colômbia vive uma guerra e a mídia sempre aponta os absurdos, desmandos e crimes das Farc mas não os crimes de Uribe e seus paramilitares como os americanos que foram libertados com Ingrid e voltaram correndo pra o colo de Bush antes que tivessem que responder perguntas embaraçosas. Ingrid está livre e eu fico feliz com isso. Mas como disse sua mãe pra mim o ano passado a luta não deveria ser apenas por Ingrid mas por todos os que ainda se encontram reféns da guerrilha e eles ainda são mais de 400. Ações diplomáticas firmes e cobrança à postura belicosa de Uribe podem arrefecer mais ainda os ânimos. Mas é sempre bom saber que a operação colombiana que libertou Ingrid não massacrou ninguém como de praxe. Não confio em Uribe, não confio nos métodos das Farc. Mas há que se dar um voto de confiança a eles. Ou não ?

domingo, 6 de julho de 2008

Para Crêr: Jesus que fazia pensar

Jesus lançou questões à humanidade sem esperar uma resposta específica, tudo com o objetivo de nos fazer pensar.

Há muita preocupação nos pregadeiros modernos em dar respostas que não têm. Seria melhor, ao invés de dar-nos argumentos mal elaborados, que plantassem perguntas para afastar as nossas mentes de seus confortáveis universos.

Afirmo: não estou a incentivar dúvidas pertubadoras sem respostas. Penso que questões nos leva ao crescimento. Se continuarmos a receber tudo regurgitado, nossas mentes virarão um amontoado de miolos acostumados a aceitar sem processar, filtrar ou questionar. Perderemos a capacidade do discernimento. Pense como algumas coisas que estão sendo faladas em cima de tribunas, já não ultrapassaram há tempos barreiras de coerência e sanidade.
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Jostein Gaarder,escritor norueguês, afirma o seguinte sobre Cristo no livro O Mundo de Sofia:
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Jesus e Sócrates já eram considerados pessoas enigamáticas no tempo em que viveram. Nenhum dos dois deixou registro escrito de suas idéias. Assim, não nos resta outra saída senão confiar na imagem deles que nos foi legada por seus discípulos. Uma coisa, porém, é certa: ambos eram mestres da retórica. Além disso, ambos tinham tanta autoconfiança no que diziam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. Para completar, ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior que eles mesmos. Eles desafiavam os que detinham poder na sociedade porque criticavam todas as formas de injustiça e de abuso de poder. No fim, esta forma de agir lhes custou a vida.

Não sou daqueles que tendem a comparar os ensinamentos de Jesus com revoluções e revoltas mas, é indiscutível que sua forma de agir influenciou não só os pobres e anônimos, como também o poder e seus representantes.

E tudo o que Ele fez: lançou perguntas. Estas batiam de frente com sistemas, dogmas e preconceitos e abriam a mente para o pensar.

O que te causa mais impacto: dizer que é necessário ser bom com o próximo, ou perguntar o que você tem feito pelo próximo? A primeira é o óbvio assimilado por osmose, a segunda é a que te expõe, que te coloca diante da situação. Portanto, amigos, deixemos de dizer como as coisas são e comecemos a perguntar como elas devem ser.
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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Eu é um outro

Um texto de Carlos Rodrigues Brandão, me lembra muito a leitura que fiz de Todorov que afirmou "Eu é um outro"
O outro: esse difícil
O diferente é o outro, e o reconhecimento da diferença é a consciência da alteridade: a descoberta do sentimento que se arma dos símbolos da cultura para dizer que nem tudo é o que eu sou e nem todos são como eu sou. Homem e mulher, branco e negro, senhor e servo, civilizado e índio... O outro é um diferente e por isso atrai e atemoriza. É preciso domá-lo e, depois, é preciso domar no espírito do dominador o seu fantasma, traduzi-lo, explica-lo, ou seja, reduzi-lo, enquanto realidade viva, ao poder da realidade eficaz dos símbolos e valores de quem pode dizer quem são as pessoas que valem, umas diante da outras, umas através das outras. Por isso o outro deve ser compreendido de algum modo e os ansiosos, filósofos e cientistas dos assuntos do homem, sua vida e sua cultura, que cuidem disso. O outro sugere ser decifrado, para que os lados mais difíceis de meu eu, e do meu mundo, de minha cultura sejam trazidos também através dele, de seu mundo e de sua cultura. Através do que há de meu nele, quando, então, o outro reflete a minha imagem espelhada e é às vezes ali onde eu melhor me vejo. Através do que ele afirma e torna claro em mim, na diferença que há entre ele e eu.

Mas a mesma diferença necessária ao entendimento é a razão do conflito, ou é o que se inventa para torná-lo legitimo, quando inevitável. Sobretudo quando do conflito entre diferentes-desiguais um estender sobre o poder de seu domínio. A história se repete seguidamente a lição nunca aprendida de que os grupos humanos não hostilizam e não dominam o “outro povo” porque ele é diferente. Na verdade, tornam-no diferente para fazê-lo inimigo. Para vencê-lo e subjuga-lo em nome da razão de ele ser perversamente diferente e precisar ser tornado igual: civilizado. Para dominá-lo e obter dele os proveitos materiais do domínio e sobre a matriz dos princípios que consagram a desigualdade que justifica o domínio, buscar fazer do o outro: o índio, o cigano, o asiático, um outro eu: o índio cristianizado o negro educado, o cigano sedentarizado, o asiático civilizado.

Carlos Rodrigues Brandão, Identidade e etnia – São Paulo