domingo, 31 de agosto de 2008

A sete palmos

Confesso que, a principio tinha uma resistência aos seriados norte americanos, até que um dia conheci os friends, depois fiquei vidrado com Lost e ansioso com a 5º temporada. Agora , com um atraso considerável conheci "A sete palmos". Achei interessante a idéia dos episódios terem como pano de fundo uma funerária, onde cada episódio começa com uma morte, e ao longo de cada episódio surgem questões filosóficas e religiosas.

A série me lembrou a parábola do filho pródigo. No primeiro episódio quem morre e é enterrado é o pai. Também neste episódio o filho mais velho, Nate, volta para a casa e o outro, David que viveu com o pai a vida toda não aceita a volta do irmão, e muito menos a decisão em testamento de dividir por igual a herança para os dois, o que aborrece muito o mais novo por não compreender a decisão do pai, a quem servia por tanto tempo...

A Esposa (a igreja?) tinha uma vida dupla, e demonstra uma certa dificuldade para compreender os dois filhos e a filha adolescente Claire com seus problemas existenciais. Mas aos poucos, e com iniciativas do filho que voltou para casa começa a compreender os filhos.

Os episódios que eu mais gostei da primeira temporada foram os episódios 9 Life.Is.Too.Short; que filosofa sobre o nosso curto tempo de vida. E um que fala sobre o amor incondicional de Deus. que me lembrou a leitura de um dos livros do Yancey quando ele comenta sobre um amigo que é Gay. David é o gay da série e freqüenta uma igreja católica, nesse episódio, um homossexual é morto e o fantasma do morto perturba David sobre a sua opção sexual com passagens bíblicas sobre o pecado do homossexualismo. Um outro episódio interessante também é o número 4 que fala sobre um membro de uma gang que foi morta, que também cita passagens do evangelho de João lembrando o amor de Deus.

Na segunda temporada que ia chatinha existe uma citação do C. S Lewis. que "filho pródigo" faz para uma viúva que lamenta a perda do marido: “Nunca ninguém me tinha dito que a dor se assemelhava tanto ao medo. in A Grief Observed. O episódio é o 6º da 2º temporada. Vale a pena conferir

Para Crêr: C. S Lewis

Há um sentido em que todos os agentes naturais, até mesmo os inanimados, glorificam a Deus continuamente, revelando os poderes que Ele lhes deu. E nesse sentido nós, como agentes naturais, fazemos o mesmo. Nesse nível, os nossos atos iníquos, no sentido em que eles exibem nossa perícia e força, pode dizer-se que glorificam a Deus, tanto quanto nossas boas ações. Uma peça musical executada com excelência, como operação natural que revela um grau alto dos poderes e habilidades dados ao homem, desta forma sempre glorifica a Deus, seja qual tenha sido a intenção dos executores.

CS Lewis

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Eu, o idiota

SÓ UMA vida examinada vale a pena ser vivida? Os gregos, pela boca platônica (na "Apologia"), acreditavam que sim. Mas os gregos acreditavam em mais: acreditavam que a vida pública era marca suprema da excelência. Os homens podem ocupar-se dos seus assuntos pessoais e privados. Mas a recusa em votar, em discursar, em interessar-se pelos assuntos da cidade, revelava não apenas egoísmo ou ignorância. Essa recusa cobria o abstencionista com um manto de imoralidade e infâmia. Os gregos, aliás, tinham uma palavra bem expressiva para essas tribos: "idiotai". Não é difícil imaginar a evolução da palavra nos tempos futuros.

Foi o cristianismo que quebrou esse "absolutismo democrático" ao introduzir um espaço íntimo, pessoal, intransmissível, palco da minha consciência. A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. Ou, por outras palavras, um ser humano não se define, apenas, pela vontade em participar nos destinos da cidade terrestre. Existe uma relação fundamental, e talvez superior, com os mandamentos da cidade celeste. Involuntariamente, o cristianismo promovia a liberdade individual ao apresentar aos homens não apenas um caminho, mas dois: o caminho público e o caminho privado.

Exatamente como Maquiavel escreveria mais tarde, ao demonstrar a incomensurabilidade das virtudes clássicas e das virtudes cristãs. Maquiavel inaugurou a modernidade política ao expressar, como nenhum outro autor antes dele, a colisão entre essas duas visões distintas. Escusado será dizer que essa colisão continua bem viva na América Latina e, sobretudo, no Brasil. Razão simples: quando existe pleito eleitoral, o "voto obrigatório" volta a balançar sobre a pobre cabeça dos brasileiros. Nos últimos dias, e com amigos paulistanos em casa, as discussões foram fartas. E um deles, liberal em matéria de costumes (droga, aborto, eutanásia etc.), defendeu o "voto obrigatório" com argumentos de peso. Dizia ele que o "voto obrigatório" era necessário por motivos de educação política. É fácil defender o "voto facultativo" em democracias avançadas e consolidadas, como nos Estados Unidos e na Europa. Mas num país como o Brasil, em que a educação cívica é precária, a obrigatoriedade do voto exige que os cidadãos se interessem pelos assuntos públicos. O "voto facultativo" apenas conduziria ao desinteresse, à alienação e, no limite, à ruína das instituições democráticas.

O argumento não me convence. Para além das situações conhecidas em que o "voto obrigatório" permite a pressão e o suborno (os "votos de cabresto" de que falava Carlos Heitor Cony no último domingo), a idéia de que a obrigatoriedade é um mecanismo pedagógico revela um otimismo insensato. Pode ser um fator educativo, sim. Mas pode não ser: exigir que os cidadãos votem pode contribuir para que aumente uma certa náusea democrática.

E essa náusea é possível, e até provável, pela visão imoral que a sustenta: uma visão que, como na Grécia, entende que só a vida pública merece ser vivida. E que existe na participação política uma marca de excelência que não se encontra na vida privada.

A visão é retrógrada, no sentido preciso do termo. Porque é perfeitamente legítimo não votar, não discutir, não se interessar; é perfeitamente legítimo valorizar a vida privada acima de todas as outras; é perfeitamente legítimo repudiar a cidade e os seus representantes pela valorização de qualquer outra forma de existência. A liberdade pessoal não se define pelo destino que damos às nossas ações; ela começa por ser um espaço nosso, em que não existe a interferência intencional de terceiros. Um espaço no qual agimos, ou não agimos, como queremos e entendemos. O meu amigo concorda comigo até certo ponto, mas depois acrescenta que existe igualmente um problema de legitimidade: quando o voto é obrigatório, existe um reforço da legitimidade dos eleitos.Talvez sim. Ou talvez não. Pessoalmente, creio que a verdadeira legitimidade de qualquer eleito só existe quando o voto foi uma opção pessoal do eleitor, não uma exigência do sistema. A autonomia valoriza o ato. Mas também valoriza, como Kant relembra, as conseqüências do ato.

Os gregos admiravam a vida pública sobre qualquer outra. E reservavam o rótulo de "idiotas" para quem discordava. Não é grave, leitores, não é grave. Ontem, como hoje, melhor ser "idiota" do que escravo.



João Pereiria Coutinho na folha de São Paulo em 19 /08/2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Vista cansada

Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

Otto Lara Resende

domingo, 17 de agosto de 2008

Parta Crêr: Premissas

Premissas

Deus não basta para a felicidade humana. Pessoas precisam de Deus. Pessoas precisam de pessoas. São dois lados da mesma moeda. "Pessoas precisam de pessoas para serem pessoas", como bem disse Augustine Shutte. Não poderia ser diferente. Um Deus plural, que é perfeito na perfeita unidade entre iguais, ao criar um ser à sua imagem e semelhança, deveria criar um ser cuja perfeição fosse possível, somente e necessariamente, numa unidade entre iguais. E Deus não é igual ao homem. Por essa razão, Deus não é suficiente para a plena realização humana.

Ed Rene Kivitiz

Um pequeno trecho do livro Vivendo com propósitos. Um livro que é uma resposta cristã para o sentido da vida.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Eu desconfiava...

Como disse alguém não há nada de novo debaixo do sol...

Com vocês Carlos Drummond o meu poeta preferido...

Igual-desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.

Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexosão iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho ímpar.

Carlos drummond de Andrade

Hipótese

Hipótese
E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.

Carlos Drumond de Andrade

domingo, 10 de agosto de 2008

Para Crêr : QUEM É JESUS?

Citações

O historiador Philip Schaff disse:
A examinarmos a perfeita humanidade de Jesus, constatamos a sua perfeita divindade. O Rei dos reis era verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Jesus Cristo era uma Pessoa com duas naturezas distintas: a divina e a humana. Como homem pleno, Ele se identificou com a nossa humanidade, como Deus, Ele é o nosso salvador.
Segundo as palavras de
John A. W. Haas: Cristo não foi um homem que ousou ser Deus, mas Deus que se dignou ser homem.

C.S.Lewis, um ex-agnóstico, escreveu:
"Estou aqui tentando evitar que alguém diga aquela grande tolice que freqüentemente se diz a respeito dEle: ‘Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre de ensinos éticos, mas não aceito a afirmação que fez de que era Deus’. Isso é o que não devemos dizer. Um homem que fosse simples homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande mestre de ensinos éticos. Seria um lunático... ou, então, seria o diabo vindo do inferno. Você precisa tomar uma decisão. Ou esse homem era o filho de Deus, ou, então era um louco ou algo pior. O Senhor Jesus afirmou claramente ser Deus. Não encontramos quaisquer outras opções. "

C.S.Lewis acrescenta:
Você pode fazê-lo se calar, se tomá-lo por um tolo; você pode cuspir nEle e matá-lo, tendo-o por um demônio; ou você pode cair a Seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém apareça com algum tipo de insensatez paternalista, afirmando que Ele foi um grande mestre humano. Ele não deixou conosco a responsabilidade de decidir a respeito. Não pretendeu fazê-lo.

Citações de um texto do

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O homem de cabeça de papelão

127 anos atrás em 1881, nascia o escritor, cronista e jornalista João do Rio


Autor, dentre outros, do excelente conto "O homem de cabeça de papelão."

http://www.releituras.com/joaodorio_homem.asp

Como crianças

Digo-lhes a verdade: quem não receber o reino de Deus como uma criança nunca entrará nele (Mc 10.15).

Filmes infantis invadem as telas dos cinemas todos os anos fazendo com que pais levem os seus filhos aos cinemas. No entanto, na sessão desses filmes é possível perceber a presença de adultos desacompanhados de crianças. Filmes infantis não têm um publico fiel só entre crianças, mas também entre adultos. A verdade é que muitos desses filmes encantam qualquer pessoa que tenha bom senso. São filmes que na maioria das vezes trazem uma simples mensagem de moral e alguns com princípios cristãos, além dos personagens serem muito engraçados.

Esses filmes são atraentes para as crianças, pois dialogam mais facilmente com o mundo infantil delas onde tudo pode acontecer como num antigo programa educativo Mundo da Lua do personagem Lucas Silva e Silva. Aos adultos os filmes são interessantes por ocuparem as crianças ou mesmo por nos distraírem por alguns momentos. Dessa forma o mesmo filme é visto de forma diferente por adultos e por crianças.

As crianças também se aproximaram de Jesus e quiseram ficar próximo dele, mostrando que também tiveram uma relação diferente da dos adultos com Jesus. Pudera! Aquele homem fizera cinco pães e dois peixes se transformarem num montão de comida e ainda andava por cima das águas e curava os doentes sem precisar de remédios. Tocar nas vestes Jesus, subir em seu colo, tapar os seus olhos e perguntar a Deus “Quem é?” devia ser o máximo. As crianças ficaram encantadas com a presença de Deus, e ainda hoje esse encantamento e fascínio por parte delas podem ser percebidos em crianças que tenham aprendido algo sobre a pessoa de Jesus. Jesus é Deus com quem as crianças podem se divertir e usarem a imaginação sem serem censuradas. Só crianças para ficarem fascinadas com Jesus e agirem de forma simples sem máscaras e sem medo diante de quem tudo sabe. Para elas não existiam dúvidas de que o centro atenções devia ser Jesus, é a Ele que se entregavam de toda a confiança, coração e imaginação; é essa a entrega que é preciso para entramos no reino de Deus.

Tornar a ser criança é fazer uma entrega total a Deus inclusive da nossa imaginação.

Laércio Miranda

Texto baseado em cima da leitura de Marcos 10. 13-16
Publicado no Pão Diário 11.
http://www.transmundial.com.br/

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Paulo Freire:

Terminei de Ler a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Agora é dar um tempo com outras leituras e só depois partir para o Pedagogia da Esperança.

Alguns trechos

"Raros são os camponeses que, ao serem “promovidos” a capatazes, não se tornam mais duros opressores de seus antigos companheiros do que o patrão mesmo. Poder-se-á dizer – e com razão – que isto se deve ao fato de que a situação concreta, vigente, de opressão, não foi transformada. E que, nessa hipótese, o capataz, para assegurar seu posto, tem de encarnar, com mais dureza ainda, a dureza do patrão. "



“o grande problema está em como poderão os oprimidos, que ‘hospedam’ o opressor em si, participar da elaboração, como seres duplos, inautênticos, da pedagogia de sua libertação. Somente na medida em que se descubram ‘hospedeiros’ do opressor poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertadora”

“há, por outro lado, em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor. Pelos seus padrões de vida. Participar desses padrões constitui uma incontida aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor”


“Até o momento em que os oprimidos não tomem consciência das razões de seu estado de opressão 'aceitam' fatalisticamente a sua exploração. Mais ainda, possivelmente assumam posições passivas, alheadas com relação à necessidade de sua própria luta pela conquista da liberdade e de sua afirmação no mundo.”

Paulo Freire A Pedagogia do Oprimido

Sobre blogueiros e bloguistas...

Franka discorda

Sou uma defensora dos blogs. Foi o que disse hoje no Estadão, numa matéria sobre blogs e literatura. O repórter me ligou essa semana. Era uma matéria pra o caderno Cultura de hoje.
Não entendo porque esse assunto incomoda tanto e porque tem tanta matéria a respeito. Ora, pra mim é muito simples. Escritor é quem escreve bem. Não importa onde. Se um escritor é bom e eu gosto de lê-lo, vou lê-lo num livro, num jornal, num folheto, num blog, num site, num papel de pão. Será que importa tanto o "onde"?. Eu sou blogueira e que tenho o maior orgulho disso. Muitas das outras pessoas entrevistadas na matéria ficam naquela lenga-lenga, batendo a cabeça aqui e ali discutindo se blog é ou não é literatura. Putis, pra quê? Pra mim é.

Então, na matéria, quando ele falou de mim e colocou minhas opiniões, disse: "... discorda Lúcia Carvalho, do blog Frankamente... ". "Discorda Lúcia", ele disse. Uau. Fui a do-contra da matéria. Hahaha. É que muita gente implica e acha que blog é "meu-diário", propaganda pessoal da pessoa, lugar sem leitor, espaço pra se exibir, literatura menor, blá, blá, blá. Mas como eu poderia ser diferente? Comecei dentro de um blog e não se abandona quem nos criou. O meu blog é a minha nave-mãe. Disse a ele que gosto muito, mas muito mesmo de escrever em blogs, e que o que torna uma pessoa um escritor é ter leitores, não importa em que mídia ou gênero literário. E assim como tudo na vida, os que tem talento vingam. Óbvio que blogs chatos vão afundar. Se você tem talento e um bom produto - o que na internet, pra mim, é escrever textos rápidos e curtos (eu expliquei que aprendi que leitura de blogs é sempre rápida, muita gente lê durante o dia, no meio do trabalho, mas ele não entendeu...) - porque não teria leitores? E porque esses leitores, só porque lêem seus textos em um blog, não lêem... literatura? Quem inventou a regra que diz que, se você é escritor, tem que necessariamente publicar em um livro? Aliás, tem uma coisa interessante. Não dá pra publicar um romance num blog, eu penso. Romance a gente lê em livros. E a literatura de um blog é o post.

Olha. Sou blogueira e quero ser blogueira sim, mesmo discordando dentro do Estadão. Na verdade, numa conversa ontem com um amigo, ele me disse que eu deveria era querer ser "bloguista".

- Bloguista, Peri?

- É. Acho que os blogueiros profissionais devem ser chamados de bloguistas. É como a diferença entre motoqueiros e motociclistas, jornaleiros e jornalistas. Pra mim existem os blogueiros e o bloguistas, Lúcia. Ser um bloguista que tem que ser a meta dos bons blogueiros.
Verdade.

Eu, a Franka, uma futura bloguista se-Deus-quiser, concordo plenamente com ele.

prosado em http://frankamente.blogspot.com/

Epístola aos Blogueiros:

Epístola aos Blogueiros
Nunca invejei Santo Agostinho pela sua salvação. Não conseguiria repeti-lo. Guarda-se a impressão de que ele quis se livrar da danação no ombro do Pai. Olhando de perto, ele foi mais corajoso do que conformista. Antecipou o inferno. Não esperou para sofrer na outra dimensão. Pagou à vista o inferno. Converter não é encontrar Deus, é encontrar o inferno.

Blog é prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Em vez de ser conhecido, corresponde a mergulho no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta do diabo, capaz de sugar sua vida ou sua aspiração.

Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os 40 dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome" (Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 1).

Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. Procura contornar o drama. Manda um aviso de postagens para os amigos; manda um aviso de postagens para os desconhecidos, catando endereços aleatórios. Nada mais o separa de um Spam. Recebe avisos ásperos: "não o conheço" ou "favor me excluir da lista". A humilhação não começou. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo.

Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou.

Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Mas tortura é quando finalmente recebe um comentário. Alegria aflita para abrir a janela, quem será? quem será?, descobre que partiu do pai ou da mãe, solidário com sua desgraça.

Sua personalidade passará a se dividir, e não multiplicar como desejava. Sede de laranjas. Laranjas! Sem pudor, cria pseudônimos para deixar comentários (o blog, pelo menos, obriga que seja seu próprio leitor). Diverte-se no sofrimento ao inventar formas de agradecimento pelos textos. Não economiza elogios ao estilo. Estará perto da internação quando se convence de que aqueles comentários não são seus e ainda responde aos e-mails falsos. Hora do soro!

Escrever na rede é uma tentativa de suicídio, chamar atenção dos outros para a nossa carência. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores.

Uma das virtudes do blog é sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim."

O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica.

Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo.

Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta.

Fabrício Carpinejar,
em O Estado de S.Paulo.

prosado em pavablog

Segunda Versão: O Tibete não é tudo isso - SLAVOJ ZIZEK

E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado do país?

As notícias publicadas em toda a mídia nos impõem uma imagem determinada que é mais ou menos como segue. A República Popular da China, que, nos idos de 1949, ocupou ilegalmente o Tibete, durante décadas promoveu a destruição brutal e sistemática não apenas da religião tibetana, mas também da própria identidade dos tibetanos como povo livre. Os protestos recentes do povo tibetano contra a ocupação chinesa foram novamente sufocados com força policial e militar bruta.Como a China está organizando os Jogos Olímpicos de 2008, é dever de todos nós que amamos a democracia e a liberdade pressionarmos a China para devolver aos tibetanos aquilo que ela lhes roubou; não se pode permitir que um país que possui um histórico tão deficiente em matéria de direitos humanos passe uma mão de cal sobre sua imagem com a ajuda do nobre espetáculo olímpico.O que farão nossos governos? Vão ceder ao pragmatismo econômico, como de costume, ou encontrarão a força necessária para colocar nossos mais elevados valores éticos e políticos acima dos interesses econômicos de curto prazo?Embora a atividade chinesa no Tibete sem dúvida tenha incluído muitos atos de destruição e terror assassino, existem muitos aspectos dela que destoam dessa imagem simplista de “mocinhos versus vilões”.Enumero, a seguir, nove pontos a serem mantidos em mente por qualquer pessoa que faça um julgamento sobre os fatos recentes no Tibete.

Poder protetor
1) Não é fato que até 1949 o Tibete era um país independente, que então foi repentinamente ocupado pela China. A história das relações entre eles é longa e complexa, e em muitos momentos a China exerceu o papel de poder protetor. O próprio termo “dalai-lama” é testemunho dessa interação: reúne o “dalai” (oceano) mongol e o “bla-ma” tibetano.

2) Antes de 1949, o Tibete não era nenhum Xangri-Lá, mas um país dotado de feudalismo extremamente rígido, miséria (a expectativa média de vida pouco passava dos 30 anos), corrupção endêmica e guerras civis (sendo que a última, entre duas facções monásticas, ocorreu em 1948, quando o Exército Vermelho já batia às portas do país).
Por temer a insatisfação social e a desintegração, a elite governante proibia o desenvolvimento de qualquer tipo de indústria, de modo que cada pedaço de metal usado tinha que ser importado da Índia.Mas isso não impedia a elite de enviar seus filhos para estudar em escolas britânicas na Índia e transferir seus ativos financeiros a bancos britânicos, também na Índia.

3) A Revolução Cultural que devastou os mosteiros tibetanos na década de 1960 não foi simplesmente “importada” dos chineses: na época da Revolução Cultural, menos de cem guardas vermelhos foram ao Tibete, de modo que as turbas de jovens que queimaram mosteiros foram compostas quase exclusivamente de tibetanos.

4) No início dos anos 1950, começou um longo, sistemático e substancial envolvimento da CIA na incitação de distúrbios anti-China no Tibete, de modo que o receio chinês de tentativas externas de desestabilizar o Tibete não era, de modo algum, “irracional”.

5) Como demonstram as imagens veiculadas pela TV, o que está acontecendo agora nas regiões tibetanas já não é mais um protesto “espiritual” pacífico de monges (como o que aconteceu em Mianmar um ano atrás), mas (também) bandos de pessoas matando imigrantes chineses comuns e incendiando suas lojas. Logo, devemos avaliar os protestos tibetanos segundo os mesmos critérios com os quais julgamos outras manifestações violentas: se tibetanos podem atacar imigrantes chineses em seu próprio país, por que os palestinos não podem fazer o mesmo com colonos israelenses na Cisjordânia?

6) É fato que a China fez grandes investimentos no desenvolvimento econômico do Tibete e em sua infra-estrutura, educação, saúde etc. Para explicar em termos simples: apesar de toda a opressão inegável, nunca, em toda sua história, os tibetanos medianos desfrutaram de um padrão de vida comparável ao que têm hoje.

7) Nos últimos anos, a China vem mudando sua estratégia no Tibete: a religião despida de política hoje é tolerada e mesmo apoiada. Mais do que na pura e simples coação militar.Em suma, o que escondem as imagens veiculadas pela mídia de soldados e policiais chineses brutais espalhando o terror entre monges budistas é a muito mais eficaz transformação socioeconômica em estilo americano: dentro de uma ou duas décadas, os tibetanos estarão reduzidos à situação dos indígenas americanos nos EUA.

Parece que os comunistas chineses finalmente entenderam a lição: de que vale o poder opressor de polícias secretas, campos e guardas vermelhos destruindo monumentos antigos, comparado ao poder do capitalismo sem freios, quando se trata de enfraquecer todas as relações sociais tradicionais?

Ideologia “new age”

8) Uma das principais razões por que tantas pessoas no Ocidente tomam parte nos protestos contra a China é de natureza ideológica: o budismo tibetano, habilmente propagado pelo dalai-lama, é um dos pontos de referência da espiritualidade hedonista “new age”, que está rapidamente se convertendo na forma predominante de ideologia nos dias atuais.Nosso fascínio pelo Tibete o converte numa entidade mítica sobre a qual projetamos nossos sonhos. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano, não estão, na verdade, preocupadas com os tibetanos reais.

O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós, em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista.
O filósofo francês Gilles Deleuze [1925-75] escreveu: “Se você está preso no sonho de outro, está perdido”. Os manifestantes que protestam contra a China estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, “Um mundo, um sonho”, propondo em lugar disso “um mundo, muitos sonhos”.Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros.

9) Para concluir, a dimensão realmente nefasta do que vem acontecendo hoje na China está em outra parte. Diante da atual explosão do capitalismo na China, os analistas freqüentemente indagam quando vai se impor a democracia política, o acompanhamento político “natural” do capitalismo.Essa questão com freqüência assume a forma de outra pergunta: até que ponto o desenvolvimento chinês teria sido mais rápido se fosse acompanhado de democracia política?

Mas será que isso é verdade?Numa entrevista há cerca de dois anos, [o sociólogo] Ralf Dahrendorf vinculou a crescente desconfiança com que a democracia vem sendo vista nos países pós-comunistas do Leste Europeu ao fato de que, após cada mudança revolucionária, a estrada que conduz à nova prosperidade passa por um “vale de lágrimas”.Ou seja, após o colapso do socialismo não se pode passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado bem-sucedida: o sistema socialista limitado, porém real, de bem-estar e segurança precisou ser desmontado, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.

Vale de lágrimas

O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado de Bem-Estar Social para a nova economia global envolve renúncias dolorosas, menos segurança e menos atendimento social garantido.

Para Dahrendorf, o problema é resumido pelo fato de que essa dolorosa passagem pelo “vale de lágrimas” dura mais tempo que o período médio entre eleições (democráticas), de modo que é grande a tentação de adiar as transformações difíceis, optando por ganhos eleitorais de curto prazo. Não surpreende que os países mais bem-sucedidos do Terceiro Mundo, em termos econômicos (Taiwan, Coréia do Sul, Chile), tenham adotado a democracia plena só após um período de governo autoritário.

Esse raciocínio não seria o melhor argumento em defesa do caminho chinês em direção ao capitalismo, em oposição à via seguida pela Rússia? Seguindo o caminho percorrido pelo Chile e a Coréia do Sul, os chineses usaram o poder irrestrito do Estado autoritário para controlar os custos sociais da passagem para o capitalismo, desse modo evitando o caos.Em suma, uma combinação esdrúxula de capitalismo e governo comunista, longe de ser uma anomalia ridícula, mostrou ser uma bênção (nem sequer) disfarçada: a China se desenvolveu na velocidade em que o fez não apesar do governo comunista autoritário, mas devido a ele.E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado da China, que faz dela a próxima superpotência global, ameaçando a primazia do Ocidente?

Há mesmo um outro paradoxo em ação aqui: e se a prometida segunda etapa democrática que vem após o vale de lágrimas autoritário nunca chegar?É isso, possivelmente, que é tão perturbador na China de hoje: a idéia de que seu capitalismo autoritário talvez não seja apenas um resquício de nosso passado, a repetição do processo de acúmulo capitalista que se desenrolou na Europa entre os séculos 16 e 18, mas sim um sinal do futuro.E se “a combinação agressiva entre o chicote asiático e o mercado acionário europeu” se mostrar economicamente mais eficiente que nosso capitalismo liberal? E se ela assinalar que a democracia, tal como a conhecemos, não é mais condição e motor do desenvolvimento econômico, e sim um obstáculo a ele?

Fonte: Folha

SLAVOJ ZIZEK é filósofo esloveno e autor de “Um Mapa da Ideologia” (Contraponto). Ele escreve na seção “Autores”, do Mais! . Tradução de Clara Allain .

domingo, 3 de agosto de 2008

Para Crêr: I Need Hero - Chris Rice

Sobre a necessidade de termos um Herói



Was I the only one to notice
That human nature doesn’t work that way
They tell me if I look deep inside me
That I can find my own way
I only find a rebel and a fool there
Who won’t admit that he’s afraidI thought I
was holdin’ on to freedom
But locked my soul up in chains

I need a hero
Who’ll dare to find me
Fly to my rescue
And crash through the wall
Announce my freedom
Bring me to my senses
Gather me into his strong arms
And carry me off. . . to safety

What is this talk about a Savior?
Well, does He listen, is He even there?
And should I be asking him directly?
But why should He consider my prayer?
Well, I don’t quite know how to do this
But Jesus, I can’t save myself
So here I go calling out for mercy
And crying out for Your help
(So if you hear me…)

I need a hero
Please dare to find me
Fly to my rescue
And crash through the wall
Announce my freedom
Bring me to my senses
Gather me into
Your strong arms
And carry me off

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

VOCÊ É UM SAFADO!!!

o safado se foi...

Segue o video de um safado e do saudoso Leonel Brizola.

Agosto...

A história do Mês de Agosto

(...)
É curioso como até o nosso calendário, agora chamado de comum ou gregoriano (por ter sido reorganizado pelo papa Gregório 13, em 1582), é afetado pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se apegam à "glória do mundo". Até o século 8º a.C., o ano do mundo romano da Antiguidade -do qual herdamos essas medidas- tinha apenas dez meses e se iniciava em 1º de março ("martius"), depois vinham "aprilis", "maius", "iunius" e, a partir daí, foram usados numerais (de cinco a dez) para denominar os meses seguintes ("quinctilis", "sextilis", "september", "october", "november" e "december").
No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois meses ("januarius" e "februarius"), que ficaram para o final. Só no século 1º a.C. o ditador Júlio César fez nova reordenação, passando janeiro e fevereiro para o início e mantendo 12 meses (o que confunde até hoje muitos, que não entendem por que chamamos de sete/mbro ao mês que numeramos com nove e de dez/embro àquele que é o número 12).

No entanto, como Júlio César, nascido no mês "quinctilis", foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seguidor daquele, por compor o Segundo Triunvirato (com Otávio e Lépido), decidiu homenagear o líder e trocou o nome do antigo quinto mês para "julius", mantendo os 31 dias que esse comportava. Porém a luta pelo poder veio à tona, e, a pretexto de proteger a honra familiar ofendida (pois Marco Antônio abandonara o antes conveniente casamento com Otávia, irmã de Otávio, e desposara Cleópatra, firmando-se como senhor do mundo oriental), a guerra foi declarada. Vencido, Antônio cometeu suicídio.

A alteração no calendário e no império não acaba aí, é claro. Com a destituição de Lépido e, depois, a derrota de Marco Antônio, o outrora Otávio (também chamado Otaviano), em janeiro de 31 a.C., recebeu do Senado o título de Augusto e, mais adiante, foi sagrado o primeiro imperador de Roma e, por fim Grande Pontífice.O imperador entendeu não ser adequado para alguém "do porte dele" não ser também homenageado com um nome no ano e não teve dúvidas em alterar o sexto mês, antigo "sextilis", para "augustus", criando o nosso atual agosto. Mas não ficou contente; "sextilis", seguindo a lógica de alternância dos meses com 30/ 31 dias (exceto fevereiro, pela sua posição mais anterior de último do ano, quando se fazia o acerto final da translação), sucedia a "julius" (grande, nos seus 31) e, desse modo, tinha duração de 30 dias. Sem problema, a lógica foi quebrada: ordenou que "seu" mês não fosse inferiorizado e passasse a ter também 31 dias.

Quase ninguém mais liga agosto ao outrora Augusto e, menos ainda, lembra que julho/agosto são os únicos consecutivos com o mesmo número de dias em memória do poderoso imperador. Os meses passam, o tempo com ele, e, afinal, como sabiamente escreveu o mineiro Ari Barroso há pouco mais de meio século na perene canção "Risque", "creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que se desmancha na areia...".

Retirado do livro
Não espere pelo epitáfio... Provocações filosóficas
Mario Sérgio Cortella