terça-feira, 27 de outubro de 2009

I Have a Dream

I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. have a dream today!
Martin Luther King, Jr.

http://www.dhnet.org.br/desejos/sonhos/dream.htm

http://www.americanrhetoric.com/speeches/mlkihaveadream.htm

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Memórias de Marguerite

É sempre bom recordar o afago de Marguerite Yourcenar (1903-1987) ao escrever que, “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana”.

A romancista e dramaturga francesa (nascida, porém, em Bruxelas, quando o século 20 tinha apenas três anos!) fez poesias (“O Jardim das Quimeras”), reinterpretando os mitos do nosso longínquo passado grego, e produziu sua mais famosa obra, “Memórias de Adriano”, quando o século chegava ao meio; morreu aos 84 anos, por pouco não alcançando o final do mesmo século com o qual quase nascera.

Qual passado não pode estar presente nas seculares memórias de Marguerite? Nos poucos 13 anos que faltaram para ela atingir o final do século 20, o que Marguerite não viu? Não viu o massacre de estudantes em uma praça de Pequim (que, por distúrbio semântico ou ironia mística, é chamada de Paz Celestial) nem a invasão do Panamá (em uma operação alcunhada de Causa Justa), ordenada por um presidente norte-americano; não viu o Brasil latinamente estrear o impeachment presidencial.

Não viu a queda do Muro de Berlim e a posterior reunificação das Alemanhas; não viu, também, o começo da reaproximação das Coréias e, mais recentemente, a lamentável retomada dos confrontos entre israelenses e palestinos, apenas sete anos após a assinatura do acordo de paz, que culminou com a entrega do Nobel para os signatários Iasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin (assassinado por um jovem judeu em Tel Aviv há cinco anos).

Não viu o desmantelamento da União Soviética, com o fim do começo da necessária utopia socialista; não viu o papa João Paulo 2º visitar Cuba a convite do próprio Fidel Castro (participante contrito de uma espetacular missa em Havana) nem o fechamento definitivo da usina nuclear de Tchernobil.

Não viu a Guerra do Golfo, quando, autorizado pela ONU, o Ocidente fez um ataque maciço e inclemente contra as forças de Saddam Hussein para recuperar os campos de petróleo de um Kuait submetido a uma invasão iraquiana; não viu uma sangrenta e aterrorizante Guerra da Bósnia, entre sérvios, croatas e bósnios, o mais longo conflito bélico na Europa depois da Segunda Guerra Mundial e que, por não envolver a avidez do petróleo, permitiu que as grandes nações acompanhassem sem intervir de fato.

Não viu a emocionante eleição de Nelson Mandela (depois de quase 28 anos na prisão) para presidir a África do Sul no primeiro governo após o término formal do apartheid; não viu José Saramago receber o Nobel de Literatura, inédito para um escritor de língua portuguesa, nem alguns ideais nazistas ressurgirem em determinados focos na Europa, que, criando uma União Européia, lançou uma moeda única.

Nas suas parciais memórias, Marguerite não viu a ovelha Dolly nem se assustou com os desdobramentos possíveis da clonagem; não falou a partir de um celular nem navegou na Internet; não ingeriu alimentos geneticamente modificados; não ouviu música em um CD; não presenciou a regularização (em alguns países) da eutanásia e da união civil entre pessoas do mesmo sexo; não acompanhou a sonda em Marte (com hipótese de outras formas de vida) e não chorou a morte de Antonio Carlos Jobim, Frank Sinatra e madre Teresa de Calcutá.

Esses “presentes”, tal como sobreviveram na memória humana, poderiam ser outros; dependem, sempre, do ponto de vista de quem lembra.

Por isso precisa ficar memorável a idéia do contemporâneo William Faulkner: “Ontem só acabará amanhã, e amanhã começou há dez mil anos...”.

Mario Sergio Cortella, filósofo, professor da PUC-SP e autor de “A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos e Políticos” (ed. Cortez/IPF)

"Por que a educação deu certo em outros países e não deu certo no Brasil?"

Por: Cristovam Buarque*

A Câmara dos Deputados realizou nesta semana um oportuno debate com uma pergunta: "Por que a educação deu certo em outros países e não deu certo no Brasil?"
A resposta exige apenas três palavras: "Porque eles quiseram". A pergunta então é: "Por que não quisemos?".

Por quatro razões: primeira, cultural. Não somos um povo, elite e massa, com visão e sentimento de que educação é um valor fundamental. Para nós, educação é, no máximo, um serviço público, como água, esgoto; com valor inferior aos investimentos na infra-estrutura econômica como energia, transporte, estrada, portos, aeroportos, bancos, e inferior também aos bens de consumo. Nenhuma família brasileira compraria uma televisão em uma loja parecida com a escola onde deixa seus filhos.

Faz parte da cultura brasileira ver a educação como um capítulo secundário ao propósito de renda, patrimônio, bem estar, soberania, justiça, democracia. O padrão de beleza é físico, jamais um jovem é tido como atraente por seus conhecimentos, por suas notas na escola. As novelas mostram seus heróis com base na riqueza, na saúde, no corpo atlético, nunca na formação literária, filosófica ou científica. E, se fizer essa inversão, parecerá falso.

Mesmo aqueles que se preocupam com a educação dos filhos, olham menos o conhecimento que terão do que as vantagens salariais que poderão obter com seus conhecimentos. Por isso, no Brasil, o interesse é maior com o diploma do que conhecimento.

Segunda, histórica. A cultura é conseqüência da história. A população deseducada não dá valor à educação. A má escola de hoje é vista como boa, porque os pais nada tiveram, agora seus filhos têm onde ficar, comer e ter a impressão que estudam. A exclusão gera a aceitação da exclusão, como as castas na Índia. No Brasil, os pobres vêem as boas escolas como um direito apenas dos filhos dos ricos, e os ricos acham que basta educar seus filhos. Os primeiros acham que não é possível uma boa escola para todos, os outros acham que não é preciso.

Terceira, política. Somos um povo dividido entre elite e povão. E historicamente a vontade política é orientada para atender aos desejos da minoria privilegiada, não às necessidades das massas excluídas. Isso vale tanto para os produtos da economia, que atendem ao mercado formado pela renda dos ricos; como para os serviços sociais: moradia, água, esgoto, transporte, cultura e também educação. Por isso, os aeroportos, por exemplo, são federais, mas as rodoviárias, municipais ou estaduais; as universidades, as escolas técnicas são federais, mas as escolas básicas, municipais ou estaduais. Quando os aeroportos entram em crise, o ministro é substituído, surge dinheiro para novas pistas, trens para levar os passageiros da cidade a novos aeroportos. Mas a tragédia educacional das greves se arrasta por meses sem qualquer ação da parte dos governos, especialmente o federal.

Quarta, abandono. Na educação, décadas de abandono fizeram com que o abandono gerasse um descaso ainda maior. O abandono provocou greves, as greves provocam mais abandono; o mesmo se passa com os baixos salários, e a perda de interesse dos professores, com as más condições dos prédios, com o roubo de equipamentos; com a violência.

São essas as principais razões que impedem o Brasil de dar o salto na educação: por falta de uma consciência social que nos impede de ter a vontade política coletiva de mudar.
Por isso, é tão difícil fazer a revolução educacional no Brasil. Não é porque não sabemos como fazer, é porque ainda não nos convencemos de que é preciso fazer.

A saída é fazer da educação uma questão nacional, fazer da escola uma responsabilidade federal. Tomar a decisão de que as escolas terão a mesma qualidade, independente da família em que a criança nasceu e da cidade onde vive. O desafio é convencer o povo de que isso é possível e preciso.

São essas as principais razões que impedem o Brasil de dar o salto na educação: por falta de uma consciência social que nos impede de ter a vontade política coletiva de mudar.
Por isso, é tão difícil fazer a revolução educacional no Brasil. Não é porque não sabemos como fazer, é porque ainda não nos convencemos de que é preciso fazer.

A maior tarefa, de quem quiser mudar a educação brasileira, é assumir o papel de educacionista, convencer, conscientizar os brasileiros de que é preciso e é possível, fazer essa revolução. Só mudando a cabeça do Brasil é que vamos educar as cabeças de nossas crianças, com a qualidade e a igualdade de que o Brasil precisa.

Cristovam Buarque é senador