quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz Ano novo



Pulando do Trem da morte, para subir na capital mais alta do mundo, La Paz.
Laèrcio Miranda

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Em tempo... É Natal



obra de Bartolome Esteban Murillo

A encarnação por Santo Agostinho
O criador do homem tornou-se homem pra que ele, o governante das estrelas, pudesse mamar no peito de sua mãe; pra que o Pão pudesse ter fome, a Fonte, sede; para que a Luz dormisse, o Caminho ficasse cansado em sua caminhada; para que a Verdade pudesse ser acusada de falso testemunho, o Mestre fosse açoitado com chicotes, o Fundamento fosse elevado sobre o lenho, a Força enfraquecesse, o Médico fosse ferido; par que a Vida pudesse morrer.

sábado, 19 de dezembro de 2009

A prole do Conde Dracul

Curiosa, a persistente popularidade de vampiros entre os jovens. Livros e filmes de vampiro estão entre os mais lidos e vistos pelo público adolescente. Nenhuma explicação sociológica para o fenômeno parece ser mais convincente do que a simples constatação de que vampiro é sexy. Talvez, numa era em que a sexualidade fica cada vez mais precoce e tudo já foi feito, a dentada no pescoço seja vista como a suprema experiência sexual. Ou então — lá vai sociologia — na falta de qualquer coisa em suas vidas que tenha mais de dois ou três anos de tradição, os jovens tenham adotado um dos mais tradicionais terrores da humanidade para ter algum tipo de passado, mesmo fictício. Os vampiros dos livros e filmes são moços na moda, mas pertencem a uma linhagem que vem das sombras da Idade Média. É uma grife milenar.

A origem histórica de Drácula, o protótipo de todos os vampiros, é o Conde Dracul, um senhor feudal da Transilvânia conhecido pela sua crueldade (seu apelido era O Empalador, manja só). O primeiro vampiro literário foi criado pelo médico John Polidori, que passava o verão de 1816 à beira do lago de Genebra junto com os poetas Lord Byron e Percy Shelley e a namorada deste, Mary Shelley. No mesmo verão famoso, Mary Shelley inventou outro monstro, a criatura do dr. Frankenstein. A invenção da Mary Shelley foi um sucesso, mas o vampiro de Polidori foi esquecido, até Bran Stoker criar o seu Drácula. Para o critico marxista italiano Franco Moretti, os dois monstros nascidos em Genebra simbolizam horrores opostos. Um, a criatura do dr. Frankenstein, feito de partes de camponeses mortos, dos dejetos do feudalismo, representa uma nova forma de vida. Uma classe sem precedentes, com um poder desconhecido, que chega para aterrorizar a burguesia. Drácula representa a classe senhorial, uma aristocracia feudal em decomposição na qual só restaram os vícios — e o gosto por sugar o sangue dos aldeões. Os dois resumem os temores que dominavam o século 19, e de um jeito ou de outro ainda dominam o mundo. Existem monstros do dr, Frankenstein mais ameaçadores do que os milhões de miseráveis sem perspectiva da Terra à espera de uma faísca que os levante? Existem sugadores de sangue mais renitentes do que os do capital financeiro internacional?

Claro que nada disto tem a ver com os vampiros na moda, hoje. Ouvi dizer que a próxima tendência entre os jovens será a de dentes caninos postiços. Em algum lugar o Conde Dracul deve estar sorrindo, satisfeito com a sua prole.

prosado no Jornal Estadão. por Luis Fernando Verissimo
Grifo nosso