sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Agosto...

A história do Mês de Agosto

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É curioso como até o nosso calendário, agora chamado de comum ou gregoriano (por ter sido reorganizado pelo papa Gregório 13, em 1582), é afetado pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se apegam à "glória do mundo". Até o século 8º a.C., o ano do mundo romano da Antiguidade -do qual herdamos essas medidas- tinha apenas dez meses e se iniciava em 1º de março ("martius"), depois vinham "aprilis", "maius", "iunius" e, a partir daí, foram usados numerais (de cinco a dez) para denominar os meses seguintes ("quinctilis", "sextilis", "september", "october", "november" e "december").
No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois meses ("januarius" e "februarius"), que ficaram para o final. Só no século 1º a.C. o ditador Júlio César fez nova reordenação, passando janeiro e fevereiro para o início e mantendo 12 meses (o que confunde até hoje muitos, que não entendem por que chamamos de sete/mbro ao mês que numeramos com nove e de dez/embro àquele que é o número 12).

No entanto, como Júlio César, nascido no mês "quinctilis", foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seguidor daquele, por compor o Segundo Triunvirato (com Otávio e Lépido), decidiu homenagear o líder e trocou o nome do antigo quinto mês para "julius", mantendo os 31 dias que esse comportava. Porém a luta pelo poder veio à tona, e, a pretexto de proteger a honra familiar ofendida (pois Marco Antônio abandonara o antes conveniente casamento com Otávia, irmã de Otávio, e desposara Cleópatra, firmando-se como senhor do mundo oriental), a guerra foi declarada. Vencido, Antônio cometeu suicídio.

A alteração no calendário e no império não acaba aí, é claro. Com a destituição de Lépido e, depois, a derrota de Marco Antônio, o outrora Otávio (também chamado Otaviano), em janeiro de 31 a.C., recebeu do Senado o título de Augusto e, mais adiante, foi sagrado o primeiro imperador de Roma e, por fim Grande Pontífice.O imperador entendeu não ser adequado para alguém "do porte dele" não ser também homenageado com um nome no ano e não teve dúvidas em alterar o sexto mês, antigo "sextilis", para "augustus", criando o nosso atual agosto. Mas não ficou contente; "sextilis", seguindo a lógica de alternância dos meses com 30/ 31 dias (exceto fevereiro, pela sua posição mais anterior de último do ano, quando se fazia o acerto final da translação), sucedia a "julius" (grande, nos seus 31) e, desse modo, tinha duração de 30 dias. Sem problema, a lógica foi quebrada: ordenou que "seu" mês não fosse inferiorizado e passasse a ter também 31 dias.

Quase ninguém mais liga agosto ao outrora Augusto e, menos ainda, lembra que julho/agosto são os únicos consecutivos com o mesmo número de dias em memória do poderoso imperador. Os meses passam, o tempo com ele, e, afinal, como sabiamente escreveu o mineiro Ari Barroso há pouco mais de meio século na perene canção "Risque", "creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que se desmancha na areia...".

Retirado do livro
Não espere pelo epitáfio... Provocações filosóficas
Mario Sérgio Cortella

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